Fernando Aguiar: tosquice canadiana
Chamavam-lhe Robocop, mas no futebol, Fernando não era um grande adepto da Lei. Ainda assim, a alcunha entende-se, tal era a forma mecanizada e rectilínea como se mexia, parecendo não ter rins nem ligamentos no corpo. A par de Petit, com quem chegou a partilhar o meio campo defensivo do Benfica, Fernando Aguiar foi o melhor jogador a morder a língua que já passou no nosso campeonato. Caro leitor, não pense que se trata de um movimento sem prestígio. Ferrar a própria língua e arregalar os olhos demonstra devoção, empenho e agressividade, o que por si só, pode resultar numa recuperação da bola. Nisso ou num cartão amarelo.
Para além dessa característica única, Fernando Aguiar, que jogou pela selecção do Canadá, terá sido o pior jogador internacional que jogou no Benfica, mesmo tendo em conta a forte concorrência de craques como Martin Pringle (Suécia), Luís Carlos (Portugal), Okonowo (Nigéria), Machairidis (Grécia) ou Rojas (Paraguai) e foi o único jogador do campeonato que conseguiu vergar o olhar a Jorge Costa. Injustamente, o golo mais importante da sua carreira - que deu uma vitória ao Benfica em Guimarães - coincidiu com a morte dum companheiro em campo, revelando que até na hora de marcar, Fernando era tosco.