Best: a vantagem de ser sempre o melhor

Quase toda a gente recebe uma alcunha na infância, sendo que muitas delas se perpetuam por toda a vida. Algumas são embaraçosas e podem provocar diversos problemas, nomeadamente as que envolvem nomes de animais ou tem conotação sexual. Pessoalmente, a minha adolescência foi povoada por “Ratos” que eram amigos de “Gatos”, pobres moças a quem chamavam “Porcas”, “Vacas” ou “Baleias”, um “Urso”, um rapaz gigante com o apelido “Libelinha”, um que simplesmente era tratado por “Cão” e outro que foi promovido a “Caniche”. Havia também um “Pato” que até nem era feio e um “Sapo” que fumava, um “Mocho”, um “Rola”, um “Pêga”, um “Melro” cantor, um “Mosca”, um “Minhoca” e até um “Bicho” e um “Bicheza” que não eram parentes. Conheci ainda um “Pilau”, um “Pilão”e um “Pilas”, um “Ranheta”, um “Cegóvia” e um “Píveas”, alguns “Cascões”, um “Grunho”, um “Pivete” e um “Selote”. Nomes de tal forma sonantes, certamente influenciaram a vida de toda esta gente.

Mas mesmo perante esta experiência social perturbadora, houve um craque que me fez entender que uma alcunha também pode ser positiva e inspiradora, senão mesmo épica. Sem o seu cognome, Artur Paulo teria sido apenas um desconhecido guarda-redes que nunca se conseguiu afirmar na Primeira Divisão. Mas por um motivo que infelizmente não conseguimos descobrir (apesar de desconfiarmos que estará relacionado com a sua magnífica estampa de gigolô ou com a sua admiração pela Tina Turner), o homem foi rebaptizado de “Best”, o que lhe garantiu um lugar de honra na memória colectiva dos amantes de bola em Portugal. Todos os dias este indivíduo acordava sabendo que era o melhor. Confirmava essa crença a toda a hora, ao ouvi-la na boca dos outros. Que satisfação! Imaginem quando este craque se apresentava a alguém: “Muito prazer. Best”. Perante tão majestosa introdução, o receptor ficaria desarmado, com as expectativas no céu e a imaginar como teria sido fixe crescer com um título daqueles.

Assim, facilmente se supõe que, ao contrário da sua carreira, a vida pessoal do guarda-redes tenha sido do best. Saiu jovem das escolas do Guimarães para acabar a formação no FCP, onde chegou a pertencer ao plantel sénior, em que estava tapado por Vítor Baía. Depois, passou vários anos no Salgueiros, quase sempre como sombra de Pedro Espinha, jogou no Leça e fez parte da derrocada do Tirsense, descendo da Segunda Divisão aos distritais em três épocas. Ainda que sem grande sucesso profissional, esperamos que Artur Paulo sinta que está no Best Of do nosso coração. 

 

Dados da carreira