Craque-Anão: uma espécie em vias de esquecimento

Na década de 90 habitava no futebol lusitano uma espécie de craque - já extinta - que se caracterizava por ter menos de 1,62 m. Para além do centro de gravidade reduzido, o Craque-Anão distinguia-se pelo cabelo encaracolado, rapidez alucinante e espírito batalhador, típico de indivíduos que durante toda a vida foram gozados devido à sua estatura. O habitat mais propício ao seu desenvolvimento era o meio-campo adversário, pelo que se sediaram como avançados ou médios-ofensivos. Entre os vários representantes da espécie, destacamos Caetano, Vitinha, Fua, Dominguez e, claro, Rui Barros. Em qualquer dos casos, estamos perante magníficos exemplos de sobrevivência.


Caetano e Vitinha tiveram outras semelhanças para além dos fartos caracóis aloirados. Na juventude passaram por um clube grande, mas foi no Vale do Ave que atingiram o ponto alto das carreiras – Caetano no Tirsense e Vitinha no Desportivo das Aves. Para além de muitos golos na Primeira Divisão e duas internacionalizações, o “tirsense” ainda deixou uma herança genética para o nosso futebol: o seu filho, avançado homónimo que actualmente desponta no Paços de Ferreira (apesar de também ser baixo, a teoria de Darwin acrescentou ao pacense cerca de 3 cm).

 

Enquanto Fua espalhou a sua brilhante alcunha por diversos clubes, atingindo o auge em Leiria, Dominguez despertou atenções no Birmingham, chegando a brilhar nas selecções nacionais e no Sporting. Os ziguezagues adornavam as suas fintas e a pala do seu penteado, o que baralhava as defesas adversárias (nota: os sites de estatísticas revelam que José tinha 1,64 ou 1,65m, mas nós não acreditamos).

 

Finalmente, chegamos a Rui Barros, o caso de maior sucesso da espécie. Rastejou pelo FC Porto, Juventus, Mónaco e Marselha. Ar simpático, penteado à Marco Paulo, chuteira número 37 e visão de jogo de rapina: tudo em 159 centímetros.

 

Quando vemos a comunicação social apelidar Leonel Messi de “Pulga” percebemos que os jornalistas estão todos amnésicos e mostram uma lamentável falta de consideração por este grupo de jogadores, já que a maioria deles não chegaria ao queixo do argentino. Seja como for, os craques não se medem aos palmos.