Folha: a arte de poupar
António Folha foi um extremo esquerdo com um bonito nome e uma carreira de relevo: vinte e seis vezes internacional por Portugal, venceu dezoito títulos pelo Porto, incluindo sete campeonatos, e um campeonato mundial de sub-20, em Riad. No entanto, não foi eleito para a nossa montra pelos seus troféus, mas graças à sua aura especial e única.
Conhecido em alguns círculos nortenhos como o “”, o valor de António nunca gerou consenso e foi um jogador de contrastes. Esquerdino nato, marcou alguns dos seus melhores golos com o pé direito. Alternava momentos de pura e bela tosquice com outros de (algum) espectáculo. Richard Gere português
Em meados dos anos 90 o F.C.P., tal como outros clubes, criou uma Equipa B para rodar jogadores. O plantel dessa equipa era formado na maioria por jovens provenientes das camadas jovens, aos quais se juntavam alguns jogadores experientes que perdiam o seu lugar no plantel principal. No final do milénio, foi a vez de Folha ser despromovido. Largos anos passados, o Craques na Sombra teve acesso a um episódio mítico dessa época, revelador da dimensão superior deste craque.
O treino chegara ao fim e os jogadores reuniram-se no balneário para o merecido banho. A certa altura, o veterano aborda um jovem companheiro para lhe fazer uma estranha proposta, mais ou menos nestes termos:
– Miúdo, eu dou-te 50 cêntimos por semana e dividimos o teu champô, ok?
– Pode ser, Sr. Folha – respondeu o jovem surpreendido, sem saber se deveria sentir-se usado ou honrado.
Importa apenas acrescentar que o internacional português auferia um salário mensal a rondar valores entre os 10 e os 40 mil euros.