Paco Fortes: dos fracos não reza a história
Francisco Fortes nasceu em Barcelona mas foi Faro que lhe deu a Medalha de Ouro da cidade. No Camp Nou mostrou-se um extremo eléctrico e raçudo, ao lado de jogadores como Cruyff. Foi apelidado de El Feo (O Feio) e chegou a ser chamado por uma vez à selecção espanhola. Em Portugal treinou o Farense, clube onde actuou as últimas cinco épocas enquanto jogador.
Paco teve uma vida e uma carreira de estrela rock. Polémico, envolveu-se em confusões dentro e fora do campo – por exemplo a acusação de violação num estágio. À semelhança de muitos outros génios, problemas económicos e matrimoniais deixaram-no na miséria, acabando a dormir numa carrinha. Consta-se que hoje trabalha no porto de Barcelona e estamos certos de que será a alma do cais.
O carisma deste treinador obrigou-nos a abrir uma excepção nas nossas homenagens, normalmente limitadas a jogadores dos últimos vinte anos. Era fascinante a insistência do espanhol em dizer “balon” mesmo depois de setecentos anos a viver no nosso país. Acreditamos que ainda hoje El Feo pense que o castelhano é o idioma oficial de toda a península e que o português se trata apenas de uma língua regional, tal como o galego ou o catalão. E é graças a ele que todos os portugueses que se querem armar a falar castelhano usem sempre a palavra “pressupuesto”.
O jeito nervoso e irrequieto no banco, os punhos cerrados na hora da frustração e o sorriso rasgado nos momentos felizes foram traços marcantes do espírito transcendente deste técnico. Mentor de grandiosos craques como Paixão, Jorge Soares, King, Miguel Serôdio, Pitico, Rufai ou Hassan Nader, conseguiu obter proezas inéditas no clube algarvio como atingir a final da Taça (89/90) e apurar-se para a UEFA (5º lugar em 94/95). Após essa classificação europeia, andou 75 km a pé para pagar uma promessa. Compromissos idênticos obrigaram-no a usar brinco e a rapar o mítico bigode depois de alcançar outros objectivos.
Perante tudo isto, será justo considerar Paco Fortes o treinador mais emblemático que passou em Portugal nas duas últimas décadas? Pressupuesto.