Pepa: três toques de sonho
Pedro Miguel Marques da Costa Filipe nasceu a 14 de Dezembro de 1980, em Lisboa. Mas 18 anos e 39 dias depois, esse rapaz voltava a nascer, desta vez em forma de mito.
Decorria o minuto 89 do jogo entre Benfica e Rio-Ave, época 1998/99, no Estádio da Luz. Os da casa venciam por um tangencial 2-1 (golos de Nuno Gomes e Cadete!) e Graeme Souness, o escocês que veio a Portugal para diminuir a taxa de desemprego no Reino Unido, decidiu lançar em campo o jovem Pedro, apenas para perder algum tempo.
Anónimo para o adepto comum, Pepa destacava-se não só pela sua brilhante alcunha (segundo um rumor, com origem numa obsessão adolescente pelo refrigerante Pepsi), mas também por ainda ter idade de júnior e apresentar um cabedal ideal para um avançado demolidor. De cabeça rapada e queixo para fora, Pepa lá entrou para o meio dos crescidos.
Nas bancadas e nos sofás caseiros, todos os verdadeiros benfiquistas começaram a fantasiar sobre as qualidades do avançado e sobre a sua entrada sebastianina, preocupados que estavam por não ter um matador desde Rui Águas. O miúdo apenas precisou de três minutos e de três toques na bola para arrumar o jogo com um golo cheio de classe, aqui narrado pelo próprio: «Foi um passe do João Pinto. Se tivesse apanhado um fiscal-de-linha que tivesse dormido pouco se calhar tinha assinalado fora-de-jogo, mas eu não estava. Recebi de pé direito, ajeitei com o esquerdo e depois rematei de bico, à Romário.”
Pepa correu sorridente para a bandeirola e a magia do futebol espalhou-se pelos lares da nação benfiquista. São vários os testemunhos de adeptos que garantem ter derramado uma lágrima emocionada.
Dali em diante, a carreira do craque desabou furiosamente como a obra de tantos outros heróis grandiosos. Primeiro, foi vítima da síndrome novo-pantera-negra, maleita que assombrou todos os pontas-de-lança com ascendência dos PALOP que jogaram no Benfica nos últimos anos: Akwá, Mawete Júnior, Toy ou Mantorras. Depois, mal orientado pela fama e pelo empresário Paulo Barbosa, Pepa perdeu-se pela boémia, casos de polícias e lesões, tentando diversas vezes renascer em clubes menores. Chegou a regressar à Luz em 2001/2002 mas voltou a não ser feliz: “… estava na equipa principal e ia ser titular porque estava muita gente de fora, mas no último treino, quando estávamos a ensaiar lances de bola parada, lesionei-me. O Fernando Aguiar caiu-me em cima.”
Aos 26 anos, depois de nove anos de carreira, dividida entre cinco clubes, Pepa retirava-se do futebol, com dezasseis golos em jogos oficiais, quatro operações e um livro lançado. Pouca glória profissional, mas muita admiração na nossa memória.
Questionário: qual o avançado mais tosco?