Pringle e Karadas: gémeos nórdicos
Ao contrário dos outros craques já homenageados, desta vez será apresentada uma dupla. O motivo prende-se com a quantidade de coisas em comum que estes os dois jogadores apresentam: chegaram de países nórdicos, eram altos, tinham nomes curiosos, alinharam no Benfica como avançados, noutros clubes jogaram a defesa central e, acima de tudo, tinham pouco jeito para o desporto que escolheram como profissão.
Martin Pringle, que ingressou na Luz durante o Ramadão em honra ao profeta Artur Jorge, causou estranheza à chegada por ser escuro e magro de mais para um sueco - o que não é necessariamente mau se pensarmos no exemplo de Henrik Larsson. Frequentemente associado a uma marca de batatas fritas, Pringle entrava em campo com os calções puxados até aos mamilos e com uma cruz de Cristo em ouro a pender da orelha. Mas o que abundava em estilo faltava em talento futebolístico. Ter sido parceiro no ataque de João Vieira Pinto, fez provavelmente muito miúdos deixarem de se aplicar nos estudos e só pensarem na bola. Se Martin tinha lá chegado, com certeza também eles seriam capazes.
Os pais de Karadas nunca imaginariam que o filho viria a jogar em Portugal, caso contrário nunca lhe teriam dado o nome próprio Azar. Apesar do agoiro, o jovem norueguês de ascendência turca acabou por ter bastante sorte em Lisboa. Contratação surpresa para o ataque benfiquista, acabaria por ser fundamental na reconquista do título de campeão nacional que fugia há 13 anos, com golos importantíssimos. Nada mau para um jogador que não sabia fazer um passe.
A proeza pode dever-se à sorte, mas o mais provável é resultar do génio de Giovanni Trappatoni. Como se não bastasse devolver a glória ao clube, ainda provou que há omeletas sem ovos bem saborosas. Mas, terminada a passagem da Velha Raposa pela Luz, findava também a sorte de Azar. Transferido para Inglaterra (Portsmouth) e depois para a Alemanha (Kaiserslautern), onde é possível ser tosco e feliz ao mesmo tempo, Karadas foi relegado para defesa central e hoje, em Nordfjordeid, a pequena cidade norueguesa onde nasceu, muitos acham que a sua decisiva contribuição para o título benfiquista é apenas um mito urbano.